A BUSCA PELA ALMA GÊMEA
Zefa, nossa heroína de pés no chão e coração sonhador, nasceu e cresceu embalada por contos de fadas. Em sua cabeça, em algum lugar do mundo, existia um príncipe montado em um cavalo branco — ou, quem sabe, em um carro importado — esperando por ela. Mas a vida adulta, essa danada, chegou com boletos em vez de bailes e com uma realidade bem diferente daquela que a Disney pintava. O príncipe, ao que tudo indicava, tinha se perdido no trânsito de São Paulo ou, talvez, seu cavalo branco fosse apenas um pônei de carrossel.
A busca pelo "felizes para sempre" começou na era digital. Desliza para cá, desliza para lá. O cardápio de pretendentes era vasto, mas o sabor era quase sempre o mesmo: insosso. Tinha o Zé, um poeta de olhar perdido e palavras doces que pareciam tecidas com luar e flor de laranjeira. Ele prometia universos, mas, na prática, não entregava nem um café na padaria. O amor dele vivia nos versos, mas morria na hora de encarar a vida real. O coração de Zefa, que se abria em flor, acabava sempre em dor.
Depois veio o João, o bombado. O corpo dele era uma escultura grega, e o papo, um monólogo sobre whey protein e agachamentos. Zefa até tentou se interessar por aquele universo de músculos e marmitas, mas sua alma pedia mais. Ela queria ser vista como uma heroína, não como a parceira de treino que conta as repetições.
A saga de bar em bar, de festa em festa, de aplicativo em aplicativo perdurou. Cada encontro era uma nova esperança que, na maioria das vezes, terminava com um "visualizado e não respondido". Sua alma foi ficando cansada. Cansada de se arrumar, de criar expectativas, de contar sua vida para estranhos que sumiriam na manhã seguinte, cansada de procurar em outros a peça que, talvez, só ela mesma pudesse encontrar.
Foi então que ela tomou a decisão mais revolucionária de sua vida: desistiu. Não com amargura, mas com alívio. "Chega", disse ao espelho. "A busca acabou". E, ao fazer isso, ela finalmente se encontrou.
Ela começou a namorar a si mesma. Levou-se a viajar, a dançar sozinha na sala, a ler livros que a transportavam para outros mundos. Descobriu que sua própria companhia era, afinal, deliciosa. Aprendeu que o amor-próprio não era um prêmio de consolação, mas o prato principal, o banquete inteiro.
E foi aí, no meio de um desses encontros consigo mesma, que o destino, esse roteirista maroto, resolveu agir. Numa tarde cinzenta e chuvosa, refugiou-se numa livraria. O cheiro de papel antigo e café fresco a envolveu. Enquanto seus dedos passeavam pela lombada de um livro, um sorriso a encontrou.
Ele não era um príncipe nem um herói de capa. Era apenas uma pessoa normal, com um olhar curioso e um livro de Saramago na mão. Começaram a conversar, primeiro sobre as palavras, depois sobre a vida e, por fim, sobre o nada, aquele nada que preenche tudo. E nossa heroína sentiu. Não era um trovão nem um fogo de artifício, mas uma paz danada, uma calma que dizia: "está tudo bem".
Ela não sabia se aquele era o homem da sua vida, a tal alma gêmea, ou apenas um belo capítulo. Mas, pela primeira vez, isso não importava. Ela aprendeu que a felicidade não estava na busca incessante pelo outro, mas na chance de se encontrar, de se amar e de se permitir viver. E, com o coração tranquilo, sabia que, se o amor da sua vida um dia chegasse, a encontraria inteira, completa e, finalmente, em paz.