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domingo, 27 de outubro de 2019

Um Duelo

Um Duelo


A tristeza, a amargura, o vazio, a angústia, compõem o manto da insatisfação que o cavaleiro solitário arrasta ao longo do seu dia a dia. A jornada que lhe fora atribuída transforma segundos em horas fatídicas e penosas que assaltam, sem piedade, seu espírito, sua alma, seu eu.

Que este sonho faça-se materializar:
Que minha vida torne a agradar.

Neste momento, apenas o silêncio e o vento. Instantes depois, seu olhar de abandono torna-se caçador ao ouvir uma réplica a ecoar entre as robustas árvores.

Qual encantamento admoesta teu nobre coração, cavaleiro das sombras?

Ele olha ao redor; conclui como algo imaginário e insiste:

Esta solidão proveniente de guerras
Arrebata sentimentos de outrora
Transformando sonhos em secas terras
Sem o sabor doce de uma ardente aurora.

Atento a alguma resposta, nada escuta. Seus olhos procuram por algo indescritível, entretanto, constata a inexistência de qualquer vida próxima a ele.
Ainda sim, teima em duelar.

Vejo o horizonte resplandecer a minha frente
Nada posso fazer e também nada a negar
Entristecido dessa vida; torno-me ausente,
Até mesmo ao modo de respirar.

Finaliza com suspiro e uma e outra lágrima que deslizam, paulatinamente, pelas cicatrizes profundas em seu rosto. E ouve a voz majestosa que responde:

Insatisfação tenaz arrebata tua alma
Duelas perdido como um nada
Questiona a si e porque te calas?
Imploras ajuda sem nenhuma calma.

Aquiete teu coração, cavaleiro sombrio!
Aceite teu duelo com mansidão
Desfrute do instante com a razão
Sem se perder pela emoção.

O cavaleiro se acomoda junto ao poderoso carvalho que desenha sombras em seu entorno. Então, o guerreiro já cansado pelas infinitas labutas e contendas, se harmoniza com a delicada brisa que o acaricia junto à face. Agora, ele de olhos cerrados e aparência descontraída, transmite a ideia de que a própria alma aproveita o ensejo e se desnuda diante do frescor sublime que o acalenta. O minuto torna-se infinito ao som de lindas melodias de pássaros que habitam naquelas folhagens.
Após vagar pelos labirintos secretos do próprio eu, admirado, ele se ergue, se afasta um pouco daquela nobre árvore, abre os braços, levanta a cabeça com o olhar fixo na direção do céu e pergunta:

Quem argumenta aos meus questionamentos?
Quem propõe tal prerrogativa para minha recusa?
Quem discorda sem tentar me entender?
Quem propõe aceitação ao meu dia a dia?

Ao pronunciar tais palavras, ajoelha-se, encosta a própria testa à terra coberta de folhas secas, estende sobre as mesmas seus braços numa expressão de fadiga e, com as mãos, enche-as de folhas apertando-as com toda sua força para finalmente desabafar um grito de pavor e revolta que ecoa em todas as direções.
Alguns segundos de silêncio.
Permanece atento ao mínimo som. E nada acontece, nada ouve, nada enxerga além do seu campo visual. Ergue-se, ajeita sua espada e se desloca em direção ao seu fiel companheiro de tantos embates. Seu corcel negro com olhar tímido e humilde apenas o observa. O homem valoroso se aproxima do belo animal, toma-o pela rédea e começa a lhe fazer afagos. Nisso, atenta para as dicções que invadem de forma abrupta sua zona de conforto.

Encontrarás em teu grito a possível solução às tuas questões?
Então, resolutamente afirmo:
Fadigar-te-á diante de tal indecisão
Teu crepúsculo inibirá tua ação
Revoltado causará intriga ao teu nobre coração.

Perdes tempo reclamando ao teu dia a dia
Tua nobreza é medida pela sua irritação
Aceite suas batalhas com toda sua energia
E assim, na brevidade de um instante ouvirás uma suntuosa canção.

O cavaleiro atribulado pelas vozes que adentram sua humilde consciência; fita o horizonte arbustivo em posição contemplativa e profere:

E quem escuta minhas indagações?
E quem analisa meus lamentos?
E quem me responde com palavras apaziguadoras?
E se vós, solenemente, afirmas dessa maneira,
Então, desconheces meus duelos secretos ornados por falsas verdades.

Ele, o cavaleiro das sombras, inquieto, anda em círculos e observa a origem das respostas. E sem exalar qualquer suspiro profundo, administra o seu andar evitando o pisar sobre as folhas secas que repousam a sua volta. Procura total silencio desejando captar a origem de seu desafiador. Com os olhos abrilhantados e sem piscar, busca compreensão visual que justifique tamanha experiência carnal. Tem ciência de algumas Leis do Universo, contudo, carrega indagações quanto à constatação de fatos reais. Permanece ali aguardando a voz argumentadora. Observa que, conforme se desloca no círculo imaginário sobre as folhas, fica o registro de suas pegadas que afloram um círculo. Desembainha sua espada com a mão direita e coloca a ponta no centro do círculo. Traça uma linha do centro até a borda demarcatória do limite da circunferência por ele criada com os pés. A seguir, aviva a envoltória da circunferência. Nisso, percebe o raio do circulo. Ele se admira com a figura que resplandece diante de seus olhos. Ainda assim, fita ao seu redor demonstrando curiosidade em saber quem o revidara. Então, prossegue com outros verbetes.

Aqui estou ao centro deste circulo
Envolvido em meus questionamentos
E sem respostas do meu Eu
Assim sendo, encontrar-me-ei no limite da visão interna,
E ouvirei respostas que tanto procuro
Para ultrapassar o limite de minha limitação.

Desconheço a fundo a insondável profundidade de minha alma
Talvez um corredor sombrio como ponte
E julgo, que ao atravessá-la,
Atingirei alguma sabedoria
E libertar-me-ei dos pesadelos que me açoitam.

E outra resposta.

Engana-te cavaleiro por tal conclusão
Buscas compreensão sem nenhuma devoção
A tua mente conclui por fatos do imaginário
Sem ao menos perceber ou entender
Que estás preso a tua indagação.

E assim sendo, de bom grado, continuarei minha jornada sob outra visão.
Ele ajeita a sela do seu corcel, segura a rédea, monta e cavalga em direção ao Leste.

Imagem de Dieter_G por Pixabay
Roberto Mello - Escritor & Poeta

quinta-feira, 20 de junho de 2019

"O MENSAGEIRO" - ROBERTO MELLO


Olá, tudo bem?

Preliminarmente, agradeço seu interesse e o tempo dedicado a essa pequena leitura. 
E como tenho ciência que a fração de sua hora é muito importante, exponho um texto simples e conciso, porém muito valioso.

Iniciarei com algumas perguntas:
  •     Você crê em Deus?
  • ·     Você crê em anjos e demônios?
  •     Já vivenciou alguma experiência sobrenatural?
  •     Você acredita em guerras espirituais? 
  •     E quanto às repentinas mudanças de atitudes?

Bem, há oito anos, cataloguei junto a um pequeno número de igrejas de diversas denominações, o quantitativo de pessoas que ali frequentavam na condição de separadas ou divorciadas. Confesso que fiquei assustado, afinal, pelas respostas ou ponderações sobre tal condição, as justificativas convergiam à logística da vida moderna que frustram anseios e desencadeiam nuvens carregadas de dúvidas, descontentamentos de vida pessoal ou arrependimentos por decisões precipitadas em tempo de outrora.

Diante de tal quadro que se desnudava diante de meus olhos, iniciei pesquisas no âmbito sobrenatural e, no decorrer de horas infinitas por longos anos, constatei fatos, fatos estes que até hoje são manchetes nefastas divulgadas pela mídia. Então, comecei a montar um grande quebra-cabeça com as dualidades que se apresentavam: pessoas que assassinaram outras abarcadas por forte emoção, desentendimentos entre casais com final trágico e outras adversidades que você até já imagina.

Neste momento, não pretendo mergulhar no mar de fios deste emaranhado de circunstâncias, prefiro me ater apenas à guerra espiritual. Guerra essa, na qual, nós seres humanos, somos alvos constantes do poder das trevas ou sombras. Então, por que sofremos o efeito dessa guerra?

Ora, somos sabedores que a família é projeto de Deus, logo, o príncipe das trevas deseja a destruição. Simples a conclusão, não é? Assim sendo, destruindo a família, destrói-se toda a organização social a nível mundial.

E foi com esse embasamento que decidi narrar “O Mensageiro”.

Trata-se de uma história que ocorre no seio de determinada família e que após dez anos de casamento estável, a esposa resolve separar sem motivos aparentes.

Douglas percebe sinais de crises existenciais e até emocionais. Então, decide reconquistá-la e reconstruir a relação familiar aparentemente falida. Ele suporta o insuportável e tolera o intolerável. Independente do preço, ele se propõe às situações mais laboriosas possíveis em troca da integridade familiar.

O tempo passa, os conflitos se avolumam e, após nove meses de guerras conjugais e dualidades infinitas — já cansado —, ele pensa em desistir.

Entenda os fatos.

Algo do gênero pode estar acontecendo com você ou bem próximo a você.


Veja o book trailer “O Mensageiro”

Estou disponibilizando mais uma resenha “O Mensageiro”

O E-book você acessa diretamente - Amazon

O livro está disponível na Loja Cia do eBook        


  





Um grande e fraterno abraço!



Membro da Academia de Letras do BRASIL/SUÍÇA
Cadeira nº 164


Medalha do Mérito Litero-Cultural Euclides da Cunha


domingo, 16 de junho de 2019

TRILOGIA "PRENÚNCIO DO MEDO - PÂNICO" | LIVRO II - EDITORA ILLUMINARE

E mais um conto selecionado...
E mais uma conquista

O conto "À Sombra do Medo" fora selecionado para a Trilogia "Prenúncio do Medo - Pânico" | Livro II - Editora Illuminare - Brasil/Argentina.

Organizadoras: Ceiça Carvalho e Diany Cardoso

Participação Especial: Décio Gomes

Fragmento do Conto:

[...]

Numa noite de quinta-feira, o pai, ao chegar do trabalho, abriu o portão violentamente. Mãe e filha entreolharam-se, entretanto, preferiram o silêncio até que ele adentrasse a sala. Sem atingir o minuto estimado por elas, o efeito surpresa foi repentino.
— Estou cansado com a porra do trabalho, da minha vida e de vocês!
— Mas o que aconteceu? – A esposa que costurava um vestido, parou, ergueu-se da cadeira, se aproximou e o questionou.
Ele a empurrou com força. A mãe se desequilibrou e caiu de costas batendo a cabeça no chão. Os filhos a acudiram e começaram a chorar abraçados a ela. Diante da cena repulsiva, ele apenas disse que se mereciam e seguiu em direção ao quarto do casal. Instantes depois, ele gritou:
— Carol, enquanto tomo banho prepara a janta e não enrola. Não faça como a lerda da sua mãe, senão a cinta vai cortar teu lombo branquelo.

A palestrante interrompe o relato, ergue a cabeça e, com olhar fixo, observa o branco do teto do auditório que se mistura com as cores provenientes dos pequenos canhões de luz localizados ao fundo e no piso junto à parede. Em seguida, com um leve movimento, desliza o dedo indicador pelos olhos. Ela pede desculpas pelo silêncio momentâneo e prossegue. Nisso, alguns segundos de aplausos.
[...]


Editora Illuminare

segunda-feira, 4 de março de 2019

TRILOGIA "PRENÚNCIO DO MEDO - PRESSÁGIO" | LIVRO I - EDITORA ILLUMINARE

Mais um conto selecionado
Mais uma conquista

O conto "Obrigada, Elisa Brown!" fora aprovado para a Trilogia "Prenúncio do Medo" - Livro I "Presságio" - EDITORA ILLUMINARE - BRASIL/ARGENTINA.

Participação especial – Rô Mierling

Organizadoras: Ceiça Carvalho / Diany Cardoso 

Sinceros agradecimentos à Editora e organizadoras.

Fragmento

"[...] — Minha preocupação é ser identificado por estes zumbis. Eles não têm coragem de partir para um corpo a corpo. São covardes — Paulo expressa franzindo o cenho.
— Já falei pra você: policial tem o X nas costas! Termina logo a faculdade e depois que for aprovado no exame da OAB pede baixa da Polícia Militar. Aqui no Rio não dá mais pra viver, nem trabalhar e nem pra passear. É muita violência. É pura ilusão.
— Pois é... e ainda usam o termo “Cidade Maravilhosa” como se aqui fosse o paraíso — Paulo critica.
— Você sabe muito bem que é apenas um clichê por causa das paisagens naturais. Ah, deixa pra lá! Nós sabemos que a violência é o câncer social típico de grandes metrópoles e não há cura [...]".