Solange sempre soube como orquestrar sua própria luz. Não
era apenas o fulgor inato que cintilava em seus olhos castanhos, mas o brilho
meticulosamente lapidado de uma existência que se desenhava em perfeição. No
vasto teatro digital, suas postagens eram constelações de curtidas e
comentários; no epicentro corporativo, seu nome era um estandarte de triunfo, e
suas amizades, um mosaico invejável de almas influentes e bem-sucedidas. Ela
encarnava a autoconfiança, ou assim parecia. Cada louvor, cada convite, cada
"parabéns" era um fio de ouro tecido na tapeçaria de sua segurança,
uma tapeçaria que, sem que sua percepção alcançasse, era urdida sobre as areias
movediças da efemeridade.
A vida de Solange era um palco grandioso, e ela, a
prima-dona, eternamente sedenta pela próxima ovação. Seu sucesso profissional
era a coroa de louros de sua performance, e as redes sociais, o espelho mágico
que refletia a imagem que ela desejava que o cosmos contemplasse. As amizades?
Ah, as amizades eram o coro grego, entoando hinos e reforçando sua persona. Ela
se sentia onipotente, inexpugnável, pois o mundo parecia conspirar em uníssono
com essa ilusão.
A primeira fissura na muralha de cristal surgiu com o
gélido e-mail, desprovido de alma: a reestruturação impiedosa da empresa.
Solange, a intocável, viu-se subitamente despojada de seu manto de poder. O
impacto foi um trovão silente, mas o que se seguiu foi um cataclismo ainda mais
devastador. O telefone, antes um arauto vibrante de convites e mensagens,
emudeceu. As constelações de curtidas minguaram, os comentários se dissolveram
no éter. Aqueles que antes a cercavam com sorrisos de seda e promessas de lealdade
agora estavam enredados demais em suas próprias teias para atender seus
chamados. As amizades, que ela concebera sólidas como rocha ancestral,
desintegraram-se como castelos de areia sob a maré da indiferença. Eram laços
forjados no cadinho do interesse, erguidos sobre o que ela podia ofertar, não
sobre a essência de quem ela era.
A queda foi um mergulho abissal. Sem o palco, sem a ovação,
Solange viu-se despida, desprovida de cada fibra que urdia sua autoconfiança. A
imagem refletida no espelho das redes sociais parecia uma estranha, um vulto
vazio. Quem era Solange sem o sucesso, sem os aplausos e sem a validação
externa? A resposta, um eco sombrio, a aterrorizava: ela não sabia.
Os dias se arrastavam em um limbo de desespero e
autocomiseração. O quarto, antes um santuário, transmutou-se em seu cárcere e
refúgio. As cortinas, eternamente cerradas, barravam a invasão da luz solar, e
o silêncio era rompido apenas pelos sussurros torturantes de seus próprios
pensamentos. Ela ergueu uma muralha invisível, recusando-se a dialogar com quem
quer que fosse, nem mesmo com os pais, que tentavam, com uma paciência que
beirava o infinito, transpor a barreira de sua dor. Meses se estenderam por quase
dois anos de reclusão, em que Solange viveu à margem da vida, afundada em uma
depressão tão profunda que cada alvorecer era uma batalha hercúlea para
simplesmente sorver o ar.
Certa manhã, um fio invisível a impeliu ao banheiro. Ao
retornar ao seu quarto, um magnetismo súbito a paralisou diante dos dois
quadros emoldurados que adornavam a parede, presentes de um amigo dos tempos
áureos do antigo trabalho. Um deles, uma paisagem de montanha verdejante,
sussurrava as palavras: "Sinto-me muito fraco e totalmente esmagado; meu
coração geme de angústia. Senhor, diante de ti, estão todos os meus anseios; o
meu suspiro não te é oculto — Salmos 38:8, 9." No outro, um campo de
girassóis, banhado em luz, proclamava: "Senhor, não me abandones! Não
fiques longe de mim, ó meu Deus! Apressa-te a ajudar-me, Senhor, meu Salvador!
— Salmos 38:21, 22." Ali, naquele instante sagrado, ela rompeu o silêncio
que a aprisionava e leu em um tom quase inaudível, como um segredo
confidenciado ao vento. E, então, com uma força que brotava das profundezas de
sua alma, as palavras ecoaram novamente, em tom mais alto, preenchendo o vazio
que a sufocava, como um hino de libertação.
Após, ela se acomodou na cadeira junto à penteadeira, e o
espelho, antes um inimigo, tornou-se um confidente silencioso. Seus olhos,
antes opacos, começaram a desvendar a imagem refletida. Em dado momento, a voz
que emergia de seu próprio ser, embargada pela emoção, mas revestida de uma
firmeza recém-descoberta, questionou: "O que você está fazendo consigo
mesma?" Os ponteiros do relógio, por um instante que se estendeu em
eternidade, pareceram petrificar-se, como se o próprio tempo aguardasse, em
reverência, a resposta que se gestava.
A resposta não se manifestou em palavras, mas em um impulso
primordial. Solange ergueu-se da cadeira, sentindo uma energia há muito
adormecida despertar em suas veias. Com passos que, embora hesitantes,
carregavam a promessa de uma nova jornada, ela caminhou até a janela. Com um
movimento que era tanto um adeus ao passado quanto um convite ao futuro, puxou
as cortinas. Um filete dourado de sol, tímido a princípio, ousou espreitar pela
fresta e, então, como um amante há muito esperado, a luz do amanhecer irrompeu,
banhando o quarto em um abraço caloroso e revelando a poeira acumulada e a
desordem que se tornara parte de sua existência. Não se importou. Aquele raio
de sol era um convite sussurrante, uma promessa cintilante. Em seguida, com uma
determinação que surpreendeu até mesmo a si mesma, ela iniciou a purificação de
seu santuário, descartando o que não mais ressoava com sua alma, organizando o
que restava. Cada objeto em seu devido lugar era um passo cadenciado em direção
à organização de sua própria vida, um rito de passagem para a clareza interior.
Os dias que se seguiram foram uma sinfonia de reconstrução
silenciosa, cada nota, cada tijolo cuidadosamente assentados. O quarto, antes
um santuário de sua dor, transmutou-se em um refúgio de paz, um jardim onde a
esperança começava a florescer. Ela abraçou o autocuidado com a devoção de um
ritual, nutrindo o corpo e a alma, caminhando pelo bairro como se cada passo
fosse uma prece, sentindo o vento acariciar o rosto e o sol beijar a pele —
sensações que há muito haviam sido exiladas de sua memória. O mundo lá fora,
antes um labirinto de ameaças, agora se desvelava como um convite irrecusável,
um horizonte vasto de possibilidades inexploradas.
A busca por um novo propósito profissional não foi menos
árdua, mas cada obstáculo foi um degrau para sua ascensão. O currículo, antes
um pergaminho impecável, agora ostenta uma lacuna de quase dois anos, um abismo
que parecia intransponível. As primeiras entrevistas foram um cadinho, um teste
de sua recém-descoberta resiliência. Ela sentia o peso dos olhares inquisidores
e a sombra da desconfiança nas perguntas sobre o "período sabático".
Mas, desta vez, Solange não buscava o bálsamo da aprovação externa. Ela falava
com uma honestidade que beirava a brutalidade, mas que era a mais pura verdade
sobre sua jornada, sobre a queda vertiginosa e a redescoberta luminosa, sobre a
mulher mais forte e autêntica que emergira das cinzas de sua própria dor. Sua
voz, antes um sussurro hesitante, agora carregada da convicção inabalável de
quem conhece a si mesma e se reencontrou.
Paralelamente, o crivo de suas amizades tornou-se mais
apurado, como um ourives que separa o ouro da escória. Mensagens de antigos
"amigos" começaram a pipocar curiosas com seu reaparecimento, como
mariposas atraídas pela chama. Solange, antes uma alma ávida por qualquer
migalha de atenção, agora os observava com um olhar perspicaz, desvendando as
intenções ocultas. Ela compreendeu, com a clareza de um raio, que a verdadeira
amizade não se tecia em fios de status ou conveniência, mas na trama
indestrutível da conexão genuína e do apoio incondicional. Aqueles que se
aproximavam apenas para sondar se ela havia "voltado ao normal" ou
para farejar alguma oportunidade foram gentilmente, mas com uma firmeza
inquebrantável, afastados de seu novo círculo. Em contrapartida, os poucos que
permaneceram ao seu lado durante a escuridão, que a procuraram sem o peso do
julgamento, foram abraçados com uma gratidão que transbordava a alma. Ela
redescobriu a beleza etérea das conversas sinceras, dos silêncios que confortam
mais que mil palavras e da lealdade que resiste a todas as tempestades.
O ato de coragem de Solange não foi um único evento
grandioso, um relâmpago no céu, mas uma constelação de pequenas e
significativas escolhas diárias, cada passo em direção à sua plenitude. Foi a
coragem de se expor em entrevistas, de desvelar sua vulnerabilidade sem temor,
de rejeitar o que não mais a nutria. Foi a coragem de mergulhar nas profundezas
de seu próprio ser e reconstruir-se, não para o olhar do mundo, mas para a
saciedade de sua própria alma. E, ao empreender essa odisseia interior, ela desvendou
que a verdadeira autoconfiança não era um brilho externo a ser exibido, uma
fachada para o aplauso alheio, mas uma luz interna, constante e inabalável, que
a guiava em cada passo, uma chama eterna que jamais se extinguiria.