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quarta-feira, 2 de julho de 2025

CÂMARA DOS TRAÇOS VIVOS

  

No coração do prédio, onde a luz do sol mal ousava penetrar, filtrada pelas copas densas das árvores, ficava a Câmara dos Traços Vivos. Ali, entre pranchetas digitais e processos físicos que ganhavam vida, a irmandade de mentes criativas desvendava os segredos de cada projeto, transformando sonhos em estruturas palpáveis. Era um lugar de foco quase monástico, interrompido apenas pelo clique dos mouses, o sussurro de ideias e, ocasionalmente, o ploc suave de um gambá que, vez ou outra, ousava uma visita inesperada ao centro do salão, onde uma mesa grande e imponente reinava.

Mas junho e julho traziam consigo um tempero diferente. Não era só o ar que mudava lá fora; era a promessa de fogueiras invisíveis e balões de papel que flutuavam na imaginação. Na Câmara dos Traços Vivos, a comemoração mensal dos aniversariantes ganhava um brilho especial, um cheiro de festa junina e julina que se misturava ao aroma de café e criatividade.

Naquele mês, a mesa grande, que normalmente abrigava projetos, transformou-se num altar de delícias. Havia o bolo de milho, dourado e fofo, a paçoca esfarelando na boca, a canjica cremosa que aquecia a alma. E para os mais ousados, a sopa de ervilha e o caldo verde, quentinhos, disputavam espaço com os cachorros-quentes, que eram a alegria da criançada (e dos adultos que nunca crescem).

Não era apenas uma pausa para comer. Era um ritual. Os olhos, antes fixos nas telas, agora se encontravam. As vozes, antes sussurrando sobre linhas e conceitos, agora se elevavam em risadas e conversas descontraídas. Era ali, entre um pedaço de bolo e uma colher de canjica, que a verdadeira arquitetura da equipe se revelava: não em análise de projetos e documentos, mas em laços invisíveis de camaradagem.

Os aniversariantes do mês eram o centro das atenções. Mas a festa era de todos. Era a celebração da jornada conjunta, dos desafios superados e da alegria de pertencer.

E quando, por um instante, um gambá mais curioso aparecia, espiando a algazarra da mesa, ninguém se assustava. Era apenas mais um elemento daquela teia peculiar, um lembrete de que a vida, mesmo na Câmara dos Traços Vivos, era feita de surpresas, de beleza e de um pouco de caos encantador. E que, no fim das contas, a melhor estrutura que se podia construir era a da união.