O conto "A Viagem" fora selecionado para a Trilogia "Prenúncio do Medo - Morte" | Livro III - Editora Illuminare - Brasil/Argentina.
Organizadores: Ceiça Carvalho e Diany Cardoso.
Participação Especial: Letícia P.S
Fragmento:
[...]
Na noite da celebração, eles deixam as crianças sob os
cuidados de um casal amigo e seguem para o local. Na chegada, são recepcionados
por uma das atendentes, que os acompanha até a mesa reservada. A seguir, tomam
seus assentos.
— Eu não queria estar aqui - Christine comenta em tom baixo com o marido.
— Ora, por que aceitou?
— Sair da rotina - ela retruca.
O mutismo abarca a ambos. Apenas os olhos castanhos do
casal lampejam diante da ornamentação ali existente. Eles apreciam as pessoas
transitando em suas vestimentas, observam silhuetas que por si só já transmitem
sonhos, desejos ou sentimentos ocultos; percebem a decoração em tom escarlate
que comunga alternadamente com o branco, com a prata e o jogo de espelhos
emoldurados harmonicamente; a mesa farta do buffet, enfim, admiram-se do
ambiente acolhedor e dos detalhes esculpidos sob o manto da total perfeição. O
silêncio entre eles se rompe diante da presença de Anne.
— Olá, sejam muito bem-vindos!
— Agradecemos o convite, Anne — Jefferson fala.
— Tudo está sublime — com um sorriso embuçado, Christine
comenta.
— Obrigada pela ilustre presença do casal. Fiquem à
vontade.
Conversam mais uns cinco minutos e Anne recomeça a
jornada pelas mesas cumprindo protocolo social. Tão logo a anfitriã se afasta
dali, Christine, em tom baixo, concede:
— Bem, como viúva e sem filhos tem que agradar a todos.
Confesso que ela tem bom gosto.
— Ela é social e comunicativa — ele ponderou.
— Complementando esse elogio tão amorável... A mulher
social, a mulher comunicativa, a mulher tão simpática, continua a prestar
serviços na área jurídica da empresa?
— Sim e é ótima profissional.
— Quantas vezes na semana?
— Depende da necessidade e do caso.
Após a resposta, ela, sutilmente, com a mão direita,
ajeita o cabelo preto e longo para trás, enquanto os dedos da mão esquerda
deslizam acompanhando os detalhes dourados que se sobrepõem ao preto de sua
bolsa clutch, a qual repousa sobre a mesa. A seguir, ela arremessa um olhar tão
matreiro em direção ao esposo, que transmite a possibilidade em minudenciar
aquele comentário. Alguns segundos depois, em tom irônico, Christine questiona:
— Depende da necessidade de quem? Sua, dela ou da
empresa?
— Vai começar?
Na sequência, ele se levanta, ajeita o blazer cinza e, por
uma fração de minutos, fita o salão espelhado e reluzente pelos reflexos multicores
das lâmpadas.
— Vai passear?
Está se sentindo incomodado com algo ou por alguém? — a companheira o
interroga.
— Bem, ainda controlo minhas necessidades fisiológicas.
— Você está tentando localizar apenas o lavabo?
Ele a encara com o olhar tétrico. A seguir, esfrega ambas
as mãos e decide se ausentar.
Ela o acompanha com os olhos até a porta do toalete.
[...]
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Trilogia "Prenúncio do Medo - Morte" - Ed. Illuminare |